Salto.
“Não olhe pra baixo, olhe pra frente”, ouvi o instrutor dizer quando eu estava à beira da Bloukrans Bridge, prestes a saltar de uma altura de 216 metros. Ele sabia, tanta gente já havia desistido ao mirar o vazio debaixo dos próprios pés. Segui a recomendação e só perguntei: Safe? Ao sinal de sim, me joguei. Um salto de confiança, esperando que aquela corda me puxasse de volta. Um treino para tantos outros saltos que viriam na sequência.
Anos depois vejo o quanto essa experiência ainda reverbera em mim. Tantos foram e são os saltos menos literais, mas que podem ser igualmente assustadores. Dá medo de se jogar no vazio, encarar as situações da vida das quais não sei o que vai dar depois do ponto de partida, da qual não se pode ter certeza do resultado.
Tem horas que não tem ninguém pra responder “safe”. É que na verdade essa dinâmica toda não é sobre estar seguro, é sobre estar vivo. Seguro é ficar onde já se está. É a ponte. É aquilo que já se tem. É o nada além disso. Entre o vazio e o nada? O vazio, com certeza. No nada mora o conforto. No vazio, o risco. No nada está a certeza. Mas no vazio, a possibilidade.
O que tem me ajudado a lidar com o vazio, ou a falta de certezas a qual sou submetida vez ou outra, é a ideia de que preciso ler o resultado no longo prazo. Se congelo o momento da queda livre no salto de bungee jump, a sensação é de morte iminente. Mas aí tem a corda, que te puxa de novo.
As cordas dos saltos não literais são invisíveis, mas estão sempre ali. Sempre tem o depois, mesmo quando o plano inicial falhou. Ao me lançar posso não ter como contrapartida o resultado que imaginei. Mas um pouco mais adiante encontro algumas respostas. Mais ali, outras possibilidades se abrem. Me surpreendo com o que surge e os caminhos que se revelam alguns passos à frente.
A orientação do instrutor do bungee jump então serve pra vida: olhar para frente, ao invés de focar na sensação de medo que o vazio provoca. Não tentar entender como as cordas estão amarradas pra se sentir seguro. Não precisar saber tudo pra dar o próximo passo. Querer ter tudo claro o tempo todo é o inimigo da aprendizagem e do que pode emergir de novo e fresco, nesse espaço amplo de possibilidades.
“If you’re invested in security and certainty, you are on the wrong planet”.